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O que mais aprendi com minhas filhas

Nunca me senti tão forte e tão frágil quanto ao me tornar mãe.  Aqueles seres a acreditar que eu teria resposta para tudo – que muitas vezes eu seria a resposta – e eu a olhar para elas e ver surgirem tantas perguntas que antes desconhecia.  E regulávamos nossas alturas pelos olhares, toques, cheiros, suspiros.

Aprendi com minhas filhas que o amor nos faz gigantes e minúsculos.  Que a vida é um milagre que a gente carrega em nossos corpos – e eles não param de mudar e nos mostrar que nem tudo está sob o nosso controle.   Alargam, estreitam, crescem, diminuem. 

Quando eram pequenas e saíamos para passear, elas descobriam folhas, bichos, pedras.  Gostavam de meter a mão na terra, o pé na lama, sentir texturas.  E eu me deslumbrava e me assustava.  Tentava dosar as minhas expressões.  Explicava que não podiam pegar abelhas com as mãos, porque podiam picar.  Que alguns caramujos eram venenosos.  Que provar terra podia dar verme.  Tomava cuidado para não fazê-las enxergar a natureza como hostil.  Explicava que a picada era instintiva, o veneno involuntário, os vermes inocentes.  E aprendíamos juntas sobre os lados profundos e superficiais do universo.

Aprendi que temos de equilibrar a medida de alerta e encorajamento.  Queria que andassem, mas tinha medo que caíssem.  Sabia que tinham que aprender a se levantar sozinhas, mas corria para levantá-las.  Sabia que tinham de aprender a se defender, mas quantas vezes me precipitei para defendê-las.  Percebi que na maioria das vezes aprendemos com os erros e que, ainda assim, tentamos evitar que nossos filhos os cometam.  Sei que experiência não se doa – só ganha quem a vive.  Porém, até hoje me atrapalho com isso.

Tenho pânico de montanha-russa.  Apesar disso, resolvi me arriscar em uma pequena.  Afinal, as meninas queriam experimentar.  Respirei fundo, tomei coragem e fui.  Gritei tanto, que as contagiei com o meu medo.  Passaram anos sem querer voltar a se aventurar.  Aprendi que não precisamos ser super-heroínas.  Quando queremos mostrar poderes que não temos, fracassamos.  Aprendi a respeitar o meu medo. 

Sigo aprendendo a me equilibrar nessa linha tênue, bamba, contraditória, elástica.  E a minha única certeza é que devemos aprender tudo sobre o amor.  E sobre amar.  Essa é a lição mais preciosa e essencial.

Às vezes, quando minhas filhas eram bebês, não via a hora de dormirem, para cuidar de mim.  Pouco depois, não via a hora de acordarem.  Hoje, quando saem, a calmaria se instala em casa.  Caminho pelos cômodos, aprecio a vista pela janela, e vou ver algum filme ou ler algum livro sem ser interrompida.  De repente elas voltam.  O barulho se instaura, meu coração se acelera e um sorriso irrompe em meu rosto.

Aprendi que silêncio pode dar mais aconchego do que colo. Que colo pode dar mais aconchego que silêncio.   Que o silêncio é capaz de jogar a pessoa no abismo, assim como é capaz de resgatá-la.  Que colo e silêncio combinam.   Que a palavra pode assolar mais do que chicote, dar rasteira, derrubar.   E que pode construir ninhos, pontes, pistas de decolagem, asas.  Que ela nos salva, incentiva, inspira, perpetua. 

Minhas filhas ainda moram comigo.  Apesar de estarem na faculdade, não têm certeza do que querem.  Olham para mim com olhar de dúvida, pedindo e ao mesmo tempo refutando ajuda.  Não falam, mas vejo. E quando ouso dar uma de super-heroína, recuo.  Apenas ouço e lembro que até hoje não tenho certeza de nada.  E que é bom mudar.  E que quase nunca estamos prontos. Peço para olharem para o céu e verem o ritmo das nuvens, das estrelas.  Olharem para o mar.  Mergulharem nessa imensidão que nos alimenta de vida.

O universo também nos faz sentir imensos e minúsculos. Ao percebermos como somos maleáveis, deixamos de ser rígidos e não nos rompemos.  Sigo a me sentir por vezes mínima, por vezes monumental diante de minhas filhas.  Elas não precisam mais de mim para fazer comida, vesti-las, dar a mão para atravessar a rua.  Talvez para nada concreto.  Mas sigo em tudo: me vejo em suas razões, despropósitos, gestos, dúvidas, sonhos, medos, coragens, encontros, buscas.

E me comovo com um pedido repentino de ajuda, uma alegria na face, uns olhos de tristeza, um momento de solidão, a procura de uma resposta que nunca vou conseguir dar, um abraço de vitória, um ombro para desabarem.  Porém, dentre tantos, há um gesto que me toca ainda mais fundo: quando passam mal, lhes entrego um remédio e um copo d’água, e elas tomam, sem hesitar. Às vezes chego a conferir se peguei o medicamento certo.  Naquela confiança aparentemente tão simples, que engolem às cegas, me dou conta da nossa comunhão avassaladora.

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