fbpx

Como as palavras escritas desenterram memórias, clareiam vozes e provocam sentidos?

Minha família paterna é de origem pernambucana.  Alguns moram em Pernambuco, outros em Alagoas, alguns no Rio, em São Paulo e uns em Portugal.  Há pouco tempo, um primo de Recife criou um grupo e cada um adicionou os parentes que conhecia.  Nós nos apresentamos e começamos a trocar histórias, fotos, relatos.  Descobrimos curiosidades incríveis sobre nossos antepassados.  A partir de então, uma linda trama segue a se tecer e a cada dia nossas raízes se firmam e se entrelaçam ainda mais.  Experimentamos, juntos, uma sensação encorajadora de acolhida e pertencimento.

Descobrir sobre o lugar onde vivemos também é essencial para nos percebermos como parte de uma cultura e de uma narrativa. Lembro até hoje da surpresa que minhas irmãs e eu tivemos quando meu pai encontrou uma ferradura de cavalo antiga enterrada no jardim de nossa casa, em São Conrado.  A euforia se tornou maior ainda quando descobrimos que nos tempos coloniais o bairro pertencia a uma grande fazenda.  Desde aquela manhã, passamos a olhar diferente para o bairro e a nos percebermos como partes do mesmo.

Na semana passada, participei da entrega dos trabalhos da Oficina Rio dos Estudantes, do projeto Rio Memórias, realizada com jovens da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, em São Cristóvão, e do Instituto de Educação Carmela Dutra, em Madureira.

Durante as oficinas, os alunos discutiram conceitos de memória, história, patrimônio e território, e fizeram pesquisas sobre lugares ou personagens do bairro onde moram ou estudam, escolhidos de acordo com os seus interesses.  Conduzidos pelas professoras e pela equipe das oficinas, os estudantes refletiram sobre como as suas existências e histórias estão entrelaçadas e pertencem à construção da narrativa da cidade e do mundo.

Ao final, os trabalhos foram transformados em livros, na plataforma Crie Seu Livro, e distribuídos entre as turmas.  Testemunhar a emoção daqueles jovens ao receberem os livros de autoria deles foi inesquecível.  Choros, leituras de trechos em voz alta, risos, abraços…  Naquele momento, eu tive certeza de que, além da sensação encorajadora de acolhida e pertencimento à História, eles se enxergaram, se sentiram enxergados, e viram as suas vozes serem escutadas, validadas, encontradas. No jardim das palavras, desenterramos juntos as ferraduras da memória.

_______________________________________________

Os livros dos alunos ficam expostos na Galeria Rio dos Estudantes, no site do Rio Memórias.
Crie Seu Livro é uma plataforma gratuita de criação de livros físicos e digitais online, que pode ser acessada por qualquer pessoa.  O livro digital é grátis e a versão impressa pode ser encomendada sem quantidade mínima.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *