Nunca falamos tanto em criatividade. Porém, não costumamos parar para pensar no que ela consiste, no que a alimenta, no que a paralisa. Gastamos horas com pesquisas, treinamentos, cursos de como desenvolvê-la, quando, na verdade, o seu maior requisito é, por ironia, o tempo. Tempo para olhar, sentir, pensar, experimentar, imaginar, criar.
A criança exercita a criatividade de forma espontânea, genuína. Antes de ser apresentada a uma pessoa, um animal, um objeto, é a imaginação dela que dá vida a eles. A criança cria mundos. E são as suas criações que fazem com que ela exista além daqueles que a criam. Os castelos que ergue com paredes de almofadas, a poção venenosa que inventa da mistura do purê de batata com gotas de suco de uva, o tiranossauro que ela liberta de uma jaula no papel, são formas de se apossar do mundo. Formas de realizar a sua existência. Recursos para imperar além dos imperativos.
Ao se aproximar da mãe ou do pai e mostrar “olha esse desenho que eu fiz”, a criança está dizendo: “Olha o que eu criei. Eu sei criar”. E é muito importante que a sua criação seja validada. Assim, ela comprova a si mesma que é capaz de agir e interferir no mundo. É claro que nem sempre os pais terão disponibilidade para olhar tudo com calma – e isso é saudável -, mas muitas vezes eles têm essa disponibilidade, e ignoram, desdenham, comentam de forma evasiva. Poucos segundos a mais bastariam para prestarem atenção, perguntarem sobre algum detalhe, elogiarem um aspecto específico, e fazerem a criança se sentir enxergada.
Quando os pais falam que adoraram a janela da casa que a filha desenhou, ou perguntam por que o filho pintou um monstro com uma boca tão grande, a criança vai notar que deram importância à sua criação. Além de se sentir valorizada, ela vai exercitar ainda mais a imaginação: pensar na cor, na textura, na forma, no que fez com que aquela janela os agradasse; no porquê da bocarra daquele monstro: no que gosta de comer, se gosta de assustar com rugidos…
Dessa forma, os pais demonstram reconhecer o que o filho faz, e o filho percebe que a sua criação dá a ele o direito de ser reconhecido. Esse é um caminho sem fim. Um espaço fértil para dar vazão à sua essência.
Enfim, de nada adianta aprender sobre criatividade sem ter tempo de criar e sem ter a sua criação enxergada. Pressionar a pessoa a ser criativa, transformar a criatividade num exercício sistemático, com fórmulas, gabaritos, notas, é cortar as suas raízes. Muitas vezes é a partir do tédio que se cria.
A preocupação em preencher o tempo da criança de forma considerada produtiva acaba por sobrecarregá-la de cursos, atividades, ocupações. Esses excessos não deixam espaço para ela olhar dentro e fora de sua pessoa e exercer a sua interação mais autêntica com o mundo: a criatividade.
A criatividade materializa a imaginação e imprime o nosso jeito particular de olhar. Lembrar das fantasias, invenções, brincadeiras inusitadas da infância, é alcançar o lugar íntimo de onde ela desabrocha.
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